Páginas

Nicole Blaut - parte 3


Dizem que a vida adulta inicia-se junto com a faculdade. Não concordo muito com essa tese. Depois de me arrumar e por meu vestido favorito o que eu vejo no espelho é uma menina indefesa e frágil, que anda longe de ser adulta. Imaginar que estou tão longe da casa dos meus pais me dá um arrepio na espinha. Eles deixaram claro que eu poderia voltar se quisesse, caso eu não me adaptasse na nova cidade ou com o curso, mas eu sabia que isso não iria acontecer porque pela primeira vez eu estava escrevendo a minha própria história de acordo com meus atos e se tivesse consequências eu estava pronta pra enfrentá-las. 

Nicole Blaut - parte 2




Balé sempre foi a solução para todos os meus problemas, quando nada dava certo eu dançava, rodopiava, girava na ponta do pé, e a cada giro eu encontrava uma saída. Era como se eu estivesse expulsando toda a tensão do meu corpo com um simples movimento. Por isso eu considerava minhas sapatilhas um amuleto.

A viagem para o Piauí foi tranquila, eu dormi na maior parte do tempo. Saindo do aeroporto inspirei um novo ar, senti o ar de mudança.

Nicole Blaut - parte 1


Ultimamente minha vida está um caos. Término do ensino médio, a inaceitável Festa de Despedida dos meus amigos de escola, ou melhor, meus irmãos de escola. Sim, irmãos, pois era exatamente isso que nós éramos: uma família. Mas infelizmente cada um teve que seguir um caminho diferente e eu ainda não superei essa "separação". Eu também tive que escolher um caminho pra seguir, e escolhi o curso de Letras, na Universidade Estadual do Piauí. Eu estava feliz com minha decisão, mas um pouco atordoada com a rapidez que tudo aconteceu, sem falar que eu não estava preparada pra deixar a casa dos meus pais e ir embora para outro estado sem previsão pra voltar. Pensar em todos esses acontecimentos de uma só vez me deixa um pouco tonta. 

O dia em que eu cresci.


Ela era uma garota amargurada. Passava horas na frente do espelho tentando encontrar alguma parte do seu corpo que fosse admirável, falhando em todas as tentativas. Mas ela era diferente das outras, e isso era incontestável. Acabara de completar dezoito anos, porém nada mudara... até então.

Naquele momento estava ela, papel e caneta e seu coração explodindo em palavras que precisavam ser ditas, mas ela preferia escrever. Afinal, aquele pedaço de papel surrado a ouviria melhor que qualquer outra pessoa, ou coisa. Batia as unhas na mesa em um sinal de inquietação. Escrevia trechos distintos, um não tinha nenhuma ligação com os outros, mas mesmo assim diziam exatamente tudo o que ela sentia.

Arrume suas coisas e vai.



Você quer ir, tudo bem, eu não falo nada, não faço nada. Arrume suas coisas e vai. Não, sem essa de grandes discursos descorados na frente do espelho. Não quero saber quando foi que tudo mudou pra você, quando foi que acabou. Chega. Arrume suas coisas e vai.

Não precisa agir como se estivesse preocupado comigo. A gente sabe que não é verdade. Pare de fazer cena, não precisamos disso. Relaxe. Eu não vou fazer greve de fome, eu não vou tentar me matar. Pode ficar tranquilo; arrume suas coisas e vai.

Layout por Maryana Sales - Tecnologia Blogger