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A culpa é das estrelas.



Miguel sempre fora da turma de valentões da escola, mesmo sendo um frouxo. Na verdade, ele se protegia nas costas dos seus amigos. Morria de medo de entrar em uma briga, e só provara a valentia em cima de crianças de oito anos. Mas o que seus amigos mais gostavam de fazer era de "tirar onda" com Maria Lua, a filha do professor voluntário de teatro da escola. Porém, quando o assunto era zoar a coitada, Miguel se calava.

Ela, por sua vez, se tornara o principal alvo sem motivo algum. Talvez por sua fé. Talvez por não ser líder de torcida e tampouco se interessar em ser. Ela era diferente das outras. Enquanto as cobiçadas patricinhas da escola tentavam decidir qual roupa usar, Maria Lua estava sentada em baixo de uma árvore com um exemplar de O Cortiço, de Aluísio Azevedo. Futilidade era a única coisa que a tirava do sério, mesmo que mentalmente. Amava ajudar o próximo. Não importava qual era a situação, ela sempre estaria com um sorriso no rosto que ganhava de todas as estrelas do céu. E ela amava estrelas, diga-se de passagem.

Miguel também. Mas os amigos jamais deixariam ele em paz se soubesse disso, então ele deixava pra observar as estrelas quando estava sozinho em casa. Talvez essa fosse a única coisa em comum entre os dois, mas já era alguma coisa. O que não estava nos planos de nenhum deles era a reviravolta que o destino daria na vida dos dois em pouco tempo.

Em uma noite de céu estrelado, Maria Lua admirava e mapeava cuidadosamente as estrelas, dando, carinhosamente, um nome para cada uma. Do outro lado da rua, Miguel fazia a mesma coisa. Ambos em sintonia, levantaram a cabeça e seus olhares se encontraram. Encararam-se por um tempo, milésimos de segundo, talvez, o que foi suficiente para que Miguel caminhasse ao encontro de Maria Lua.

Mas o destino tem dessas coisas. Miguel tomou Maria Lua nos braços e em uma atitude impensada beijou-a intensamente. E já era tarde demais para voltar atrás. Imaginou o que seus amigos iriam dizer, mas quer saber?!, ele já não se importava. Tem coisas na vida que só se resolve com o silêncio, e eles ficaram ali, abraçados, em silêncio, admirando as estrelas. O que quer que fosse preciso ser dito, poderia esperar.

O amor que eles sentiam naquele momento sempre existiu, só estava adormecido dentro deles. Mas aquele amor finalmente despertou. Maria Lua. Miguel. Duas pessoas em mundos diferentes. Uma ajudinha do destino. O começo de algo que não acabaria tão cedo...


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