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Não é um adeus.


Sem olhar para trás, entrei no avião. A aeromoça orientava, elegante e educadamente os passageiros, para que sentassem em seus devidos lugares. Não foi difícil encontrar o lugar que me era destinado. Um desconforto me atingiu sem explicação. Pela janela do avião eu via, pela última vez, a cidade onde eu nasci e cresci. Fiquei imóvel, apenas permitindo que uma onda de nostalgia percorresse meu corpo. Senti que estava deixando um pedaço meu ali, naquele aeroporto.


Pensei nele. Uma, duas vezes, talvez. Voltei para o momento em que nós conhecemos, o nosso primeiro beijo, nosso primeiro banho de chuva. A  aeromoça anunciou que em breve o avião levantaria voo, e ao ouvir a voz dela no auto-falante despertei do meu momento insano. Dei uma olhada por todas os assentos do avião, estavam quase todos ocupados, deveriam ter apenas uns cinco que não tinham ocupantes, incluindo um ao meu lado. Me ocorreu, por um breve momento, que aquele lugar reservado ao meu lado estivesse um dono, ele. Mas me recompus, e coloquei na minha cabeça que aquilo era uma ideia sem pé nem cabeça.

Lembrei da carta que ele havia me entregado momentos antes de eu partir. Ele deixou claro que eu só poderia ler quando o avião estivesse no ar. Então, assim que decolamos, eu peguei a carta e antes mesmo de começar a ler, me emocionei. Senti aquele cheiro. O cheiro de loção de banho e perfume importado que eu reconheceria em qualquer lugar. 

Li e reli a carta, sem parar. Um trecho me chamou atenção: "Não fique triste. As vezes ciclos terminam para dar espaço a novos deles que irão surgir nas nossas vidas. É o início de uma nova fase, na minha e na sua vida. Não se deixe abater. Não é um adeus.". Qual fase se iniciaria na vida dele? Uma fase sem mim? Definitivamente, aquela carta me atingiu como um raio.

Em um piscar de olhos o avião pousou. Quanto tempo eu passei lendo aquela carta? Desembarquei com minha bagagem de mão e fui esperar minhas malas. Caminhei lentamente pelo aeroporto, sentindo o ar de uma vida nova. Uma pessoa segurou meu braço com uma leve firmeza, e antes que eu pudesse vê-lo, o aroma de loção de banho me avisou quem era. Não acreditei. Olhei para trás e me desfiz em lágrimas, lágrimas de emoção, de felicidade, de surpresa. Ele estava ali por mim. Nos abraçamos por um longo tempo e senti que a "nova fase" que ele citou na carta estava começando ali.


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