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O mal do costume.


Era fim de tarde de uma sexta-feira, tudo fluía normalmente. Já havia acabado meu expediente e eu seguiria pra casa como de costume. Entrei no carro, peguei o caminho mais longo até em casa, eu tinha tempo. A voz de Maria Gadú inundava todo o interior do veículo enquanto eu deslizava pelas avenidas da grande São Paulo. Durante todo percurso eu não pensei em nada, alguma coisa invisível fez minha mente permanecer vazia, por incrível que pareça.

Já havia anoitecido quando cheguei em casa, só depois de descer do carro eu notei que seria uma noite muito fria. Demorei pra encontrar as chaves dentro da bolsa, e quando finalmente encontrei notei que algo estava estranho, eu não era pra estar ali. Me dei conta da besteira que eu estava fazendo...
Eu estava na casa do meu ex-namorado.

Já fazia uma semana que ele vai me deixado, disse que o amor que nós sentíamos um pelo outro já não era o mesmo de antes e por isso não fazia mais sentido nós estarmos juntos. Eu recolhi tudo o que havia meu na casa dele e fui embora. Confesso que não sofri, não lamentei. Se era isso que ele queria não fazia sentido eu estar me mal dizendo.

Não entendi porque eu estava ali, como eu não lembrei que o meu destino já não era aquele? Pensei em ir embora, mas uma parte de mim insistia incansavelmente para que eu entrasse, e foi isso que eu fiz, coloquei a chave na fechadura e girei. Ao abrir a porta, fui golpeada por uma onda de nostalgia, senti que metade de mim ainda se hospedava naquela casa. Me rendi ao nó que se formava na minha garganta e permiti que as lágrimas que eu tanto segurei rolassem livres pelo meu rosto. Eu o amava, ele fazia falta.

Permaneci ali por um tempo. Eu precisava sentir, reviver todos os momentos que eu estive com ele. Naveguei em memórias que eu havia guardado dentro do meu coração, e que durante aqueles sete dias não haviam sido lembradas. Um barulho me tirou do mundo imaginário. Escultei uma pessoa estacionar um carro na garagem, meu coração acelerou de tal maneira, que parecia estar parado. Pensei em sair pela porta dos fundos, mas já era tarde, meu carro também estava estacionado. Ele já sabia que eu estava ali.

A partir daquele momento tudo ficou em câmera lenta. Depois que ele estacionou o carro, demorou uma eternidade para que ele finalmente entrasse em casa. Assim que o fez, permaneceu imóvel, olhando pra mim com os olhos azuis petrificados, sem nenhuma expressão. Não disse sequer uma palavra. Me odiei naquele momento, ele não queria que eu voltasse na sua casa.

Não conseguia mais olhar nos olhos dele. Abaixei a cabeça num ato de rendimento, e notei que eu ainda estava com a chave na mão. Levantei novamente o rosto e caminhei em direção a ele, parei perto o suficiente para estender a mão com a chave da casa dele, eu não precisaria mais dela. Mas para minha surpresa, uma lágrima escapou de seus olhos e ele estendeu a mão, fechando a minha. O toque foi suave, um toque que eu conhecia muito bem, que me fazia bem. Retribuí o ato e toquei o seu rosto, tentando acalmar o seu coração.

Permanecemos em pé, olhando um pro outro, minha mão continuava acariciando seu rosto. Choramos juntos, sem saber ao certo o motivo... Saudade, carência, talvez. Depois de um tempo, vi seu lábios moldares essas palavras:

— De todos os meus arrependimentos, te deixar foi o maior deles. De todas as dores que eu já senti, ficar sem você foi a que mais machucou. Durante essa semana, meus dias mais pareciam noites sem lua, o sol já não nascia pra mim. Não irei suportar ficar mais nem um minuto sem você..."

Toquei seus lábios impedindo que ele continuasse a falar. Nada mais precisava ser dito, meu verdadeiro lar era do lado dele, onde ele estivesse. Ele já havia tomado posse do meu coração e não havia mais nada que eu pudesse fazer a não ser continuar vivendo esse amor. 



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