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O dia em que eu cresci.


Ela era uma garota amargurada. Passava horas na frente do espelho tentando encontrar alguma parte do seu corpo que fosse admirável, falhando em todas as tentativas. Mas ela era diferente das outras, e isso era incontestável. Acabara de completar dezoito anos, porém nada mudara... até então.

Naquele momento estava ela, papel e caneta e seu coração explodindo em palavras que precisavam ser ditas, mas ela preferia escrever. Afinal, aquele pedaço de papel surrado a ouviria melhor que qualquer outra pessoa, ou coisa. Batia as unhas na mesa em um sinal de inquietação. Escrevia trechos distintos, um não tinha nenhuma ligação com os outros, mas mesmo assim diziam exatamente tudo o que ela sentia.

Arrume suas coisas e vai.



Você quer ir, tudo bem, eu não falo nada, não faço nada. Arrume suas coisas e vai. Não, sem essa de grandes discursos descorados na frente do espelho. Não quero saber quando foi que tudo mudou pra você, quando foi que acabou. Chega. Arrume suas coisas e vai.

Não precisa agir como se estivesse preocupado comigo. A gente sabe que não é verdade. Pare de fazer cena, não precisamos disso. Relaxe. Eu não vou fazer greve de fome, eu não vou tentar me matar. Pode ficar tranquilo; arrume suas coisas e vai.

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